As afinidades electivas, de J.W. Goethe (Relógio d'água)
Título original: Die Wahlverwandtschaften
Ano: 1809
Tradução para a Língua Portuguesa: Maria Assunção Pinto Correia
Sinopse:
As Afinidades Electivas é um romance que prefigura, logo que chega ao
espaço público do seu tempo, em 1810, o romance do futuro, de Flaubert e
Stendhal a Fontane e Thomas Mann. Internamente, a prefiguração
simbólica será também um dos seus mais conseguidos recursos estruturais,
numa constelação em que os destinos cruzados das personagens revelam um
interesse novo pelos meandros mais profundos da alma humana e pelos
mecanismos da paixão, criando efeitos verdadeiramente surpreendentes. A
genialidade deste romance parece estar nessa desconcertante inversão
permanente do(s) sentido(s), na quebra constante de todas as
expectativas do leitor e do género romanesco, acumulando e cultivando,
capítulo a capítulo, contradições e ironias, num processo comunicativo
novo. Pode bem dizer-se que o fio condutor de "As Afinidades Electivas" é
uma constelação melancólica que a cada página nos faz deparar com
motivos da disposição da alma saturnina. Na oposição entre a presença de
forças míticas obscuras e o mundo, mais maravilhoso e frívolo que
mítico, da "féerie" do canto do cisno da sociedade aristocrática, viu
Walter Benjamin a chave deste romance de Goethe.
É sempre ingrato criticar ou comentar alguém que admiramos, ainda para mais aquele que é por muitos considerado o pai do conhecimento europeu. Felizmente a sinopse que acompanha esta edição da Relógio d'água traz já suficientes críticas (e melhores do que eu seria capaz), pelo que me resta apresentar por alto o enredo deste livro. Antes disso queria acrescentar apenas que estas Afinidades electivas são o segundo livro que leio do autor, depois de Werther, que ainda não foi comentado aqui no blog apenas por se tratar de um livro que me é muito querido, de forma a que os comentários sobre ele seriam tudo menos imparciais. Encontro-me de momento a ler o terceiro livro de Goethe, Os anos de aprendizagem de Wilhem Meister, e se o faço é porque os dois anteriores me deixaram uma impressão muito positiva relativamente à escrita de Goethe que, por ser um gigante da cultura ocidental, parece assustar quem me encontra a ler as suas obras, por pensarem que se trata de matérias eruditas e complicadas, o que não é o caso.
Agora relativamente ao enredo do livro, é difícil explicá-lo sem revelar informações que possam estragar a surpresa da leitura, por isso terei de fazê-lo em contornos um pouco gerais.
Eduard e Charlotte são um casal aristocrata que vive numa vasta propriedade onde passam o tempo, entre outras coisas, sobretudo a arranjarem o espaço exterior da mansão de forma a torná-lo no seu ideal de jardim. De facto, o espaço exterior da mansão, os seu lagos, capelas, casas escondidas, são como uma personagem simbólica do romance que não deve ser ignorada. Porém, a tranquilidade da ocupação do casal é de repente comprometida quando duas visitas, o Capitão e Ottilie, a sobrinha de Charlotte, se envolvem em laços de aproximação com o casal anfitrião. Desde a chegada dos dois visitantes, a vida dos quatro nunca mais voltará a ser a mesma.
Como não consigo ser imparcial para avaliar Goethe, gostava apenar de sugerir aos nossos leitores que se dêem ao prazer de poder ler alguma obra romântica sua, porque logo descobrirão que a erudição de Goethe não interfere na clareza com que expõe os seus temas, fazendo com que não sejam livros pesados e chatos, mas romances belos que revelam uma consciência e sabedoria transversal a várias matérias.
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